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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Crise de fé

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Papai teve uma crise de fé uma vez. Passou a se chamar de "escritor não-praticante". Seus dois primeiros livros publicados foram bons, mas o terceiro foi particularmente excelente. Mudar para a Califórnia estragou tudo, e nós sabemos disso. Seus lábios envolveram a grande ereção de Hollywood e chuparam com força. Foi assim que seu livro genial, chamado "Deus nos odeia" acabou virando uma comédia romântica estúpida. E foi assim que nossas vidas começaram a desandar. Não é culpa de Los Angeles. E por mais que não seja culpa de minha mãe, meu pai perdeu sua musa. O trabalho de meu pai era simplesmente escrever, e ele dizia que escrever era como ter lição de casa todos os dias pelo resto da sua vida. Como eu me sentia quando lia seus trabalhos? Era difícil aceitar que tudo era verdade. As drogas, as garotas e o sexo, a raiva e a dor que ele sentia... Era um pouco invasivo, e meio desolador. Mas tudo foi muito pior na crise de fé. Se ele não escrevia nada, era porque não...

Essa sociedade

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Uma família tem um casal de filhos. Aparentemente, tanto menina como menino recebem a mesma educação; estudam na mesma escola, ganham o mesmo valor de mesada, recebem presentes de mesmos valores. Mas apenas a menina é incentivada a ajudar a mãe na limpeza e na cozinha, porque "ela deve ser prendada, para um dia fazer tais coisas para o marido". O garoto começa a namorar, e é encorajado pelo pai, orgulhoso de ter criado "um garanhão". Mas quando descobre que a filha também tem um relacionamento, logo começa com sermões e conversas sobre como se comportar. Ele passava horas no banheiro, e sua mãe ria e chamava isso de "fase dos banhos longos", que sua irmã, graças a Deus, jamais teve, porque menina não faz isso; não merece o prazer que o seu corpo pode lhe dar. Quando nova, a menina chorava ao ter o joelho ralado na brincadeira de rua; logo era consolada pelos pais, mas que a lembravam logo que esse tipo de brincadeira não era adequada para meninas. Quando o...

Drink up, sweet decadence

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O que eu ganho com isso? É o que eu venho me perguntando a cada ressaca e até hoje não encontrei resposta. Acordei no sofá-cama desconfortável da sala. Podia dizer que cheguei em casa tão mal que apenas me joguei no sofá e dormi, mas a verdade é que já faz algum tempo que não durmo no quarto. Por quê? Porque a lâmpada queimou há treze dias, e ainda não tive a decência de comprar outra e trocar. E é difícil pra mim confessar que estou esperando reunir coragem (ou perder totalmente a vergonha que me resta, como queira) para encarnar a donzela em perigo e pedir ao meu belo vizinho que faça uma gentileza. Meu corpo todo doía. Ainda estava de vestido. Ao meu lado estava a necessaire capotada com as maquiagens que havia usado ontem. Só não estava com dor de cabeça porque ainda estava entorpecida com as bebidas de ontem. Ontem tinha sido diferente. Ontem, pela primeira vez na vida, dormi com um estranho. Eu não estava me sentindo um lixo por causa disso. Eu não era exatamente uma moralista. C...