Drink up, sweet decadence

O que eu ganho com isso? É o que eu venho me perguntando a cada ressaca e até hoje não encontrei resposta.
Acordei no sofá-cama desconfortável da sala. Podia dizer que cheguei em casa tão mal que apenas me joguei no sofá e dormi, mas a verdade é que já faz algum tempo que não durmo no quarto. Por quê? Porque a lâmpada queimou há treze dias, e ainda não tive a decência de comprar outra e trocar. E é difícil pra mim confessar que estou esperando reunir coragem (ou perder totalmente a vergonha que me resta, como queira) para encarnar a donzela em perigo e pedir ao meu belo vizinho que faça uma gentileza.
Meu corpo todo doía. Ainda estava de vestido. Ao meu lado estava a necessaire capotada com as maquiagens que havia usado ontem. Só não estava com dor de cabeça porque ainda estava entorpecida com as bebidas de ontem.
Ontem tinha sido diferente. Ontem, pela primeira vez na vida, dormi com um estranho. Eu não estava me sentindo um lixo por causa disso. Eu não era exatamente uma moralista. Como sempre, não era o fato em si que provocava essas sensações em mim, mas as implicações por trás dele.
12 reais pelo táxi (só paguei a ida), 20 reais pela entrada na festa, 10 reais cada shot de tequila (e foram muitos). Esse dinheiro deveria durar duas semanas. Agora não poderei pagar a lavanderia, e provavelmente passarei a semana toda procurando entre as pilhas no chão as camisetas em melhor estado. Será péssimo ligar pra minha mãe e contar como acabei com o dinheiro. Será péssimo falar com ela, de qualquer forma. Como se ela soubesse exatamente de toda a sujeira da noite anterior. Como se cada palavra minha dita a ela fosse baboseira auto-indulgente, e ela soubesse de tudo isso.
Eu estava implorando por limites, por segurança... Mas era difícil quando tinha apenas duas escolhas: acordar arrependida ou dormir com vontade. Eu faria qualquer coisa, se me garantissem que assim sentiria algo de verdade. Eu preferia queimar, se a outra opção fosse apagar aos poucos.
A superação da ressaca física logo vinha com um banho, um analgésico e algumas horas de sono. O único sentimento verdadeiramente intenso que tinha com essas experiências era o desespero. A superação da ressaca moral só vinha depois de um pedido desesperado de absolvição. O pior é que eu sabia que conseguiria essa absolvição, mas logo o sentimento de paz se tornaria marasmo e tudo recomeçaria no fundo da primeira dose de tequila.


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