Retrato de um verão dos anos 90
Voltar à casinha de Paula Pereira foi como olhar uma fotografia em sépia da minha infância. A propriedade de meus falecidos pais era chamada pela família de "rancho" e foi lá que passamos boa parte dos verões nos anos 90. Estive lá para dar uma última olhada na casa antes de vendê-la. Ao abrir o galpão, como era esperado, vi o barco de meu pai. Mas o que me surpreendeu foi encontrar minha canoa inflável, agora flácida, furada e empoeirada numa prateleira.
Naquele instante, lembrei-me do dia em que descobri pelo rádio que havia ganhado o brinquedo num sorteio do mercado local. Gritei e comemorei ao saber que era o mais novo dono da canoa verde, junto com seu remo amarelo e um colete salva-vidas. Na minha inocência de menino, mal podia esperar para navegar até a China (já que não havia conseguido chegar até lá escavando a terra do jardim), e queria começar a viagem no rio Iguaçu, que corria em frente ao rancho.
E foi o que fiz no domingo da mesma semana, quando fomos à Paula Pereira. Enquanto os homens assavam o churrasco nos fundos da casa, as mulheres faziam almoço na cozinha. Na sala, sozinho e entediado com a transmissão ruim da Fórmula 1, achei que seria a oportunidade perfeita para colocar meu plano em prática. Arrastei a canoa até o rio e entrei. No início, sentia-me tão eufórico quanto Jack e Rose pareciam se sentir na proa do Titanic. Porém, a euforia logo se transformou em pânico quando o remo caiu na água e começou a se afastar! O plástico do barco sob o sol quente do meio-dia queimava minhas coxas e assim o desconforto se uniu ao medo. Por sorte, logo minha ausência foi notada: na beira do rio, mamãe gritava enquanto meu pai se apressava para me resgatar no barco de pesca. À noite, sentados na varanda, depois de um sermão da progenitora, ela me acolheu em seus braços e disse que um dia riríamos muito desse dia (e foi o que aconteceu em todos os natais dos anos seguintes). Só nunca imaginei que, 20 anos mais tarde, choraria de saudade dos verões no rancho.
Naquele instante, lembrei-me do dia em que descobri pelo rádio que havia ganhado o brinquedo num sorteio do mercado local. Gritei e comemorei ao saber que era o mais novo dono da canoa verde, junto com seu remo amarelo e um colete salva-vidas. Na minha inocência de menino, mal podia esperar para navegar até a China (já que não havia conseguido chegar até lá escavando a terra do jardim), e queria começar a viagem no rio Iguaçu, que corria em frente ao rancho.
E foi o que fiz no domingo da mesma semana, quando fomos à Paula Pereira. Enquanto os homens assavam o churrasco nos fundos da casa, as mulheres faziam almoço na cozinha. Na sala, sozinho e entediado com a transmissão ruim da Fórmula 1, achei que seria a oportunidade perfeita para colocar meu plano em prática. Arrastei a canoa até o rio e entrei. No início, sentia-me tão eufórico quanto Jack e Rose pareciam se sentir na proa do Titanic. Porém, a euforia logo se transformou em pânico quando o remo caiu na água e começou a se afastar! O plástico do barco sob o sol quente do meio-dia queimava minhas coxas e assim o desconforto se uniu ao medo. Por sorte, logo minha ausência foi notada: na beira do rio, mamãe gritava enquanto meu pai se apressava para me resgatar no barco de pesca. À noite, sentados na varanda, depois de um sermão da progenitora, ela me acolheu em seus braços e disse que um dia riríamos muito desse dia (e foi o que aconteceu em todos os natais dos anos seguintes). Só nunca imaginei que, 20 anos mais tarde, choraria de saudade dos verões no rancho.
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