As palavras que me encontrem

Eu admiro muito quem SABE escrever. Não me refiro a parte técnica da coisa, juntar as letras e formar palavras. Estou falando de gente que sabe se expressar. Porque eu tenho muita coisa pra dizer, mas não consigo colocar isso no papel. É complicado. No momento, tudo o que eu queria era me fazer entender.
Stephen King (um dos meus autores favoritos) disse que existem dois tipos de escritores: aqueles que escrevem buscando respostas para si e aqueles que escrevem para um público, e que ambos são egoístas. Acredito que ele tenha razão. Acho que eu sou do primeiro tipo. Porque às vezes eu pego um caderno e começo a divagar sobre qualquer coisa que me venha à cabeça. Sabendo que ninguém vai ler, risco menos frases do que numa redação para o colégio. Já quando eu começo uma história pensando em quanta gente vai agradar, nada funciona. Até sugeri para as garotas da banda uma coisa. Deveríamos imprimir nossas composições usando a mesma formatação, dobrar e ler aleatoriamente, assim ninguém saberia quem escreveu. É claro que cada um tem um jeito muito particular de escrever, mas eu me sentiria melhor se todo mundo ignorasse que eu sou a autora. Bobagem, eu sei.
As pessoas têm mesmo um jeito particular de escrever, bases literárias e processos criativos diversos. Graciliano Ramos só usava as palavras necessárias. Alguns enchem de metáforas e outras figuras de linguagem. Alguns não suportam reler o que escrevem, assim como alguns atores não conseguem assistir aos próprios filmes. J. K. Rowling escrevia em bares. Minha amiga acha que sentimentalismos empobrecem os textos. Conheço compositores que começam suas letras em inglês e depois traduzem. Se eu pudesse definir meu estilo, diria que é meio Hank Moody. Um pouco (muito) pretensioso. E sou cheia de bloqueios, o que minha amiga chama de Síndrome da Página em Branco. Às vezes eu insisto muito em textos que não vão nem chegar ao fim. Às vezes eu olho uma foto, ouço uma música e isso basta para encher várias páginas. Às vezes eu perco pontos em redação por não deixar claro o que eu penso.
A verdade é que eu tento demais, mesmo sabendo que a inspiração é mais rara que boa música no Brasil. E então eu encontro pessoas que "me explicam" com uma simplicidade encantadora. Nem vale a pena citá-las aqui, mas tenho um arquivo enorme com cada coisa que me chama a atenção. Eu não sei se essas pessoas pensam demais no que estão escrevendo, ou apenas seguem o fluxo das palavras surgindo no papel. Só sei que elas não precisam de explicações. Se precisassem, não teriam cumprido sua missão. Começo a achar que não sei me fazer entender, e nem sei porquê isso importa tanto. Foda-se, as palavras que me encontrem.

Comentários

  1. Se a ideia é realmente "Saber escrever" como você específicou...
    parabéns, você sabe

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  2. Talvez seja questão de espontaneidade.
    Às vezes, estamos com uma vontade bem grande de escrever, mas pegamos um caderno, pensamos "deixarei as palavras fluírem", mas nada sai dali.
    Outras vezes, pegamos o caderno sem querer, olhamos pr'aquelas linhas em branco e quando vemos já passamos de duas páginas escritas.

    Por exemplo, este texto. Ficou bem expressivo, claro e.. espontâneo. Gosto de textos espontâneas.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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