Outubro, novembro, dezembro e julho.
Outubro: o timing perfeito, mais uma vez. Cobri os seios, você ofereceu seu braço para que eu pudesse deitar, e nesse meio abraço dividimos um cigarro. Estava tudo maravilhoso, até você dizer "eu te amo". E ficar sem resposta, obviamente. Não queria dizer "obrigada", para não te magoar, pois mesmo não te amando, te respeitava. Meu coração ainda estava acelerado, e minha respiração ofegante, comecei a suar frio e permaneci calada. Por que você precisava fazer um grande caso disso? Detestava todo e qualquer tipo de cobrança, então por que cobrar essa reciprocidade? Você surtou. Perguntou o que mais precisava fazer para ouvir um "também te amo". Ri por dentro, pensando em te dizer para apertar um daqueles ursos de pelúcia que você tinha me dado, e poderia ouvir declarações quando quisesse. Mas percebi que dessa vez era diferente. Você realmente estava com raiva. E cansado, combalido, fadigado, extenuado, exausto da minha secura. Foi quando te perdi.
Novembro: mas não por muito tempo. Sozinha em casa numa noite de sábado, sem a menor vontade de sair, desejei mais que tudo a sua companhia. Seria assim: eu te ligaria como se nada tivesse acontecido, te convidaria para um jantar, e iria me propôr a cozinhar spaghetti, com direito a vinho barato para acompanhar. Mas então você viria aqui, trazendo o tal vinho barato, perderia a paciência com a minha falta de jeito na cozinha e acabaria fazendo tudo sozinho. Também traria algum filme de terror escroto que não chegaríamos a assistir nem até a metade, porque logo encontraríamos algo melhor pra fazer. E dividindo mais um cigarro, então tudo pareceria tão certo e em paz que dizer "eu te amo" seria espontâneo e verdadeiro. Mas passei essa noite de sábado ao lado do telefone, pensando se você já havia achado outra, ou se havia saído para beber com os amigos e falar mal de mim, e não tive coragem. Lutei contra a ansiedade e disse para mim mesma que logo essa vontade de amar passaria. E não passou, por isso te liguei chorando no meio da noite, dizendo repetidamente que te amava e pedindo desculpas por ser uma idiota. Alguém mais já ouviu dizer que sexo de reconciliação é o melhor?
Dezembro: o atraso da menstruação estava me perturbando ao final de dezembro, somado aos outros sintomas. Foi por isso que fui até a farmácia no horário do almoço e comprei um teste de gravidez, mas adiei ao máximo o momento de usá-lo. Durante esse tempo apenas pensava em como isso poderia afetar a minha vida, e as expectativas não eram das melhores. Então eu vi aquelas malditas duas listras e chorei. Chorei naquela hora e te odiei pelos próximos nove meses, cada vez que você me negava uma bebida por causa do bebê, e por você querer ficar conversando com a minha barriga, e pedir pra saber o sexo no exame de ultrassom, mesmo eu pedindo uma surpresa, e depois de descobrir que era menino ainda querer colocar o nome do seu guitarrista favorito. Te odiei por encher meu apartamento com coisas fofinhas e por pintar o quarto de hóspedes do seu apartamento de azul (me obrigou a fazer um discurso feminista mais uma vez). Te odiei por insistir pra morar contigo ao fim da gravidez, alegando ser mais seguro e cômodo, caso eu precisasse de alguma coisa. E eu só precisava que você me deixasse em paz. Em algum momento da minha vida eu queria ser mãe, mas não aos 24 anos logo depois de receber uma proposta de trabalho no exterior e ter de recusá-la. Mas confesso que o dia do nascimento do nosso filho me emocionou muito, e naquele momento eu não me arrependi de nada. Até você me pedir em casamento.
Julho: mais especificamente cinco julhos depois que eu trouxe ao mundo o fruto daquele sexo de reconciliação. Por mais que eu amasse a família que construímos, às vezes essa responsabilidade me assustava. As coisas estavam ficando tão estáveis que parecia que seria pra sempre assim, e que não sobraria mais espaço para aqueles sonhos da garota que veio do interior e lutava para conseguir o que queria. Por isso agarrei outra oportunidade de trabalho. Não no exterior, mas que me deixava mais longe de vocês. Era um conflito de interesses dentro de mim mesma; me afastei da minha família, mas morria de ciúmes e indignação cada vez que você era visto como o pai quase-solteiro herói da sociedade. Me enganei quando achei que você tinha se cansado naquele outubro. Percebi que você havia se cansado dois julhos atrás, quando me mandou os papéis do divórcio. E agora estava eu dirigindo para a casa da sua mãe, onde seria a festa de aniversário do nosso filho. Um Playstation 3 num pacote de presente era minha companhia no banco do carona. Aquele dia estava tão perfeito! Era um daqueles dias ensolarados, mas bastante frios. Meu casaco não seria suficiente. Você percebeu e logo me emprestou um seu. E fui obrigada a sentir seu perfume cada vez que batia o vento. E entre o cheiro de grama cortada, o cheiro dos brigadeiros e salgadinhos, o cheiro dos balões de borracha... O seu perfume era o mais nostálgico de todos. Naquele dia eu fui forte ao conhecer sua nova namorada, fiquei sinceramente feliz por passar um dia com meu filho, mas assim que entrei no carro, chorei como nunca por ter deixado isso pra trás por causa de bobagens. Nunca mais em uma manhã de domingo ele se enfiaria entre nós na cama. E eu não sabia se mais alguma vez na vida passaria por isso. A vida é mesmo um cobertor curto.
Novembro: mas não por muito tempo. Sozinha em casa numa noite de sábado, sem a menor vontade de sair, desejei mais que tudo a sua companhia. Seria assim: eu te ligaria como se nada tivesse acontecido, te convidaria para um jantar, e iria me propôr a cozinhar spaghetti, com direito a vinho barato para acompanhar. Mas então você viria aqui, trazendo o tal vinho barato, perderia a paciência com a minha falta de jeito na cozinha e acabaria fazendo tudo sozinho. Também traria algum filme de terror escroto que não chegaríamos a assistir nem até a metade, porque logo encontraríamos algo melhor pra fazer. E dividindo mais um cigarro, então tudo pareceria tão certo e em paz que dizer "eu te amo" seria espontâneo e verdadeiro. Mas passei essa noite de sábado ao lado do telefone, pensando se você já havia achado outra, ou se havia saído para beber com os amigos e falar mal de mim, e não tive coragem. Lutei contra a ansiedade e disse para mim mesma que logo essa vontade de amar passaria. E não passou, por isso te liguei chorando no meio da noite, dizendo repetidamente que te amava e pedindo desculpas por ser uma idiota. Alguém mais já ouviu dizer que sexo de reconciliação é o melhor?
Dezembro: o atraso da menstruação estava me perturbando ao final de dezembro, somado aos outros sintomas. Foi por isso que fui até a farmácia no horário do almoço e comprei um teste de gravidez, mas adiei ao máximo o momento de usá-lo. Durante esse tempo apenas pensava em como isso poderia afetar a minha vida, e as expectativas não eram das melhores. Então eu vi aquelas malditas duas listras e chorei. Chorei naquela hora e te odiei pelos próximos nove meses, cada vez que você me negava uma bebida por causa do bebê, e por você querer ficar conversando com a minha barriga, e pedir pra saber o sexo no exame de ultrassom, mesmo eu pedindo uma surpresa, e depois de descobrir que era menino ainda querer colocar o nome do seu guitarrista favorito. Te odiei por encher meu apartamento com coisas fofinhas e por pintar o quarto de hóspedes do seu apartamento de azul (me obrigou a fazer um discurso feminista mais uma vez). Te odiei por insistir pra morar contigo ao fim da gravidez, alegando ser mais seguro e cômodo, caso eu precisasse de alguma coisa. E eu só precisava que você me deixasse em paz. Em algum momento da minha vida eu queria ser mãe, mas não aos 24 anos logo depois de receber uma proposta de trabalho no exterior e ter de recusá-la. Mas confesso que o dia do nascimento do nosso filho me emocionou muito, e naquele momento eu não me arrependi de nada. Até você me pedir em casamento.
Julho: mais especificamente cinco julhos depois que eu trouxe ao mundo o fruto daquele sexo de reconciliação. Por mais que eu amasse a família que construímos, às vezes essa responsabilidade me assustava. As coisas estavam ficando tão estáveis que parecia que seria pra sempre assim, e que não sobraria mais espaço para aqueles sonhos da garota que veio do interior e lutava para conseguir o que queria. Por isso agarrei outra oportunidade de trabalho. Não no exterior, mas que me deixava mais longe de vocês. Era um conflito de interesses dentro de mim mesma; me afastei da minha família, mas morria de ciúmes e indignação cada vez que você era visto como o pai quase-solteiro herói da sociedade. Me enganei quando achei que você tinha se cansado naquele outubro. Percebi que você havia se cansado dois julhos atrás, quando me mandou os papéis do divórcio. E agora estava eu dirigindo para a casa da sua mãe, onde seria a festa de aniversário do nosso filho. Um Playstation 3 num pacote de presente era minha companhia no banco do carona. Aquele dia estava tão perfeito! Era um daqueles dias ensolarados, mas bastante frios. Meu casaco não seria suficiente. Você percebeu e logo me emprestou um seu. E fui obrigada a sentir seu perfume cada vez que batia o vento. E entre o cheiro de grama cortada, o cheiro dos brigadeiros e salgadinhos, o cheiro dos balões de borracha... O seu perfume era o mais nostálgico de todos. Naquele dia eu fui forte ao conhecer sua nova namorada, fiquei sinceramente feliz por passar um dia com meu filho, mas assim que entrei no carro, chorei como nunca por ter deixado isso pra trás por causa de bobagens. Nunca mais em uma manhã de domingo ele se enfiaria entre nós na cama. E eu não sabia se mais alguma vez na vida passaria por isso. A vida é mesmo um cobertor curto.
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