Just Sixteen

Assustador, inaceitável, pouca-vergonha, absurdo, sujeira, sacanagem, paradoxo. Amor.
Não consigo acreditar que com 35 anos de idade caminhava para minha cama levando no colo uma garota de 16 anos, completamente bêbada. Mas tão linda... O lábio inferior curvado a guisa de sorriso, os dentes da frente ligeiramente maiores, o cabelo comprido bagunçado, a maquiagem borrada... Essa beleza suja me enlouquecia. Ela estava linda antes de sairmos, com salto alto, maquiagem e cabelo impecáveis, mas agora estava incrível. Eu não sabia mais separar nela o que havia de menina e o que havia de mulher.
Julie era minha aluna, e garanto que aprendeu muito mais do que história comigo. Eu sei que isso quintuplica toda a problemática do nosso caso, e eu sei o quanto isso soa horrível, mas garanto que não era. Eu já fui casado, eu sou um cara relativamente sério, e não é como se eu procurasse garotas com menos da metade da minha idade para usar. Eu realmente gosto da Julie.
Ela chamou minha atenção logo no começo do ano, quando comecei a trabalhar no colégio. Julie sempre estava com livros interessantes nas mãos, e lia com tanta avidez e concentração que o mundo poderia desabar ao seu redor que ela nem levantaria os olhos do livro. Não participava muito das aulas, mas quando eu insistia perguntando algo diretamente, ela sempre sabia a resposta. Um dia tive uma hora vaga e fui até o clube de debates, e o assunto era a legalização da maconha. Uma de minhas alunas claramente se posicionava contra, e Julie apenas observava, reprimindo aquele sorrisinho da arrogância-na-dose-certa. Quando a garota apelou para o argumento fajuto de que "a maconha torna as pessoas violentas", Julie levantou a mão e disse: o Woodstock reuniu 500 mil pessoas que consumiram 26 toneladas de maconha durante 3 dias de paz, amor e música. No saldo, apenas duas pessoas morreram, e nenhuma delas por causa de maconha. Não aconteceu nem mesmo uma briga." Assim ela ganhou aplausos daqueles garotos com dreads, piercings e camisetas do Che Guevara e Bob Marley. Confesso que aplaudi também, sorrindo. Eu sabia que teríamos ótimas conversas.
Só mais um argumento em minha defesa: foi Julie quem se aproximou de mim, eu juro. Eu estava logo atrás dela na fila de entrada para uma pequena casa de shows. Meu coração deu um salto. Ela ainda não tinha notado minha presença. Foi até a bilheteria e pediu uma entrada. A moça pediu a identidade. Eu sabia que ela era menor de idade, e antes que ela pudesse responder, passei o braço sobre os ombros dela e disse: "você deixou sua carteira no carro, quer que eu busque?". A mulher olhou meio desconfiada, mas para meu alívio disse: "tudo bem, pode entrar". Comprei minha entrada e logo nos encontramos dentro do local. Ela riu e me agradeceu, disse que eu era o professor mais incrível que ela já havia conhecido. Conversamos durante a noite toda sobre música, literatura e história, e descobrimos muita coisa em comum. Três doses de tequila e já parecia que ela estava implorando por uma aproximação, qualquer que fosse. Um abraço, a cabeça cansada encostada no ombro, mãos dadas, colo, beijo... Eu ia contra todas as minhas vontades e resistia, até que foi impossível, porque eu sou apenas um homem e aquela garota estava de batom vermelho. Covardia. Mulheres (até as mais novas delas) sabem sobre criptonita, calcanhar de Áquiles e essas coisas. É por isso que é impossível negar algo a uma mulher, especialmente quando você também quer.
Aquela noite foi incrível, e terminou com ela em cima de mim no meu carro. Não aconteceu nada mais sério, mas o suficiente pra quase me enlouquecer. Ela beijava com paixão de verdade, e nosso beijo se encaixava perfeitamente. Quando ela me deu um minuto para respirar, acendi um cigarro. Ela tentou tomar o cigarro da minha mão, e eu não deixei, dizendo que ela era menor de idade. Foi engraçado ver a fingida irritação naquele rosto bêbado e lindo. Ela tomou o cigarro mesmo assim, e eu ri quando ela tentou tragar e se afogou. "Acho que vou preso por isso, mas vou te ensinar a fazer isso direito.".
Normalmente ela estava com um livro diferente a cada semana, mas já fazia quase duas semanas que ela estava com o mesmo do Stephen King. Estava mais calada que o normal. Só voltamos a conversar quando ela me procurou na sala de assistência. Basicamente uma sala com mesas redondas, onde os professores faziam plantões para tirar dúvidas. As mesas de matemática, física e química estavam sempre cheias. A minha não. Só uma ou outra garota aparecia ocasionalmente se fazendo de burra para falar comigo e tentar uma aproximação. Julie se sentou tomando o cuidado de deixar uma cadeira vazia entre nós. Ela contou que estava estudando geologia e se deparou com os tipos de carvão. Me perguntou - sem nem levantar os olhos dos papéis que trouxera - se podia estabelecer relações entre as disponibilidades e usos dos tipos de carvão com as diferenças das fases da revolução industrial. Era uma análise realmente interessante. Eu respondi o que ela queria saber, e então disse que queria encontrá-la outra vez fora do colégio. Ela disfarçou um sorriso, me passou um papel e uma caneta e disse para que eu anotasse meu endereço ali. Foi assim que ela acabou na minha cama depois da aula. Juro que não aconteceu "nada".
Naquele dia, tentei ensiná-la a tragar, mas parecia impossível. Resolvi que era melhor assim. Mas ela ficava absurdamente sensual apenas deixando a fumaça não-tragada dançar saindo de seus lábios. Quando as coisas esquentaram, Julie resolveu me surpreender mais uma vez - quando a paudurice já havia começado - e disse que era virgem. Isso me assustou pra caralho. Foi quase como um choque de realidade. Então eu trouxe uma aluna menor de idade para a minha cama, tentei ensiná-la a fumar e estive prestes a tirar a virgindade dela. Ela estava assustada também, mas com muita vontade, como se fosse enlouquecer se eu não fizesse algo. "Você tem medo ou vergonha ou algo do tipo?" Ela concordou. Afrouxei a gravata anil do uniforme dela e comecei a abrir os botões da camisa branca. "Calma, não vou fazer nada. Só quero te mostrar uma coisa." E só de sutiã ela deitou em cima de mim e me encarou. "Pele com pele", eu disse ofegante, "é a melhor coisa do mundo". Não era fácil pra mim não fazer algo quando tinha uma garota linda e semi-nua em cima de mim, especialmente quando essa garota beijava muito bem, enquanto puxava meu cabelo, arranhava minhas costas e envolvia meu corpo com suas pernas. Mas como disse, não aconteceu nada. Respeitei Julie e passamos o resto da tarde ouvindo Pantera na minha cama.
Já estávamos quase no fim do semestre, e as coisas ficaram realmente sérias entre nós. Ela arranjou um álibi e assim podia passar tardes e noites comigo dizendo aos pais que estava na casa de uma amiga. Era a melhor coisa do mundo quando depois do banho ela aparecia vestindo apenas calcinha e uma camiseta roubada de mim. Eu ficava na minha poltrona e ela sentava no meu colo. Sempre inventávamos algo para o jantar e tomávamos cerveja para acompanhar, e depois apenas assistíamos à televisão. Às vezes ela dormia no meu colo, na poltrona mesmo, e eu tinha que levá-la para a cama.
Sei que dificilmente poderíamos oficializar tudo isso. Nunca chegaríamos de mãos dadas ao colégio. Eu nunca seria convidado para um almoço de família no domingo. Nos cuidávamos até quando saíamos para jantar ou quando fazíamos compras no mercado sábado de manhã. Ninguém poderia saber. Eu não posso dizer que não entendo as consequências de meus atos. Não posso negar o quanto nossa história soa absurda. Eu não posso dizer que somos puros e inocentes, que nosso amor é limpo e que vou pedir a mão dela em casamento. Talvez um dia. Mas eu me pergunto os porquês de toda essa dificuldade. Somos um casal qualquer. Nós sabemos ser castos e românticos quando precisamos, mas sabemos ser sujos e sacanas quando queremos. Isso é amor de verdade, essa é a paixão que faltava na minha vida.

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